Genius: Chapters 9 e 10 (1×09 e 1×10)

Confesso: a melancolia dos últimos anos de Einstein, retratados do episódio duplo que fechou a maravilhosa temporada de Genius, invadiu meu coração à medida que eu a assistia. Além da despedida da série que me deliciava semana a semana, isso significava me despedir do gênio que tanto admiro. Mais que isso: me despedir do humano que ele era, com muitos defeitos, mas que acima de tudo era uma questionador.

Foi impossível não pensar em A Teoria do Amor, filme que romantizou os últimos anos do físico nos EUA o transformando no tio zeloso de uma linda garota que apenas queria que ela ficasse com o rapaz certo. Com o rosto de Walter Matthau, o Einstein do filme que vi ainda na adolescência ficaria sempre marcado como “a cara de Einstein” para mim. Depois da série, digamos que ele divide o posto com o menos romântico, mas ainda mais interessante, rosto dado por Rush (e Flynn).

No final da série encontramos um Einstein mais sereno que convive com os horrores da guerra. Horrores que para ele tem rostos próximos como do eterno inimigo Philipp Lenard, cego de inveja e ódio.

A esta altura ele e Elza já atravessaram o oceano e vivem em Princeton, mas a distância não é grande o bastante para deixá-lo fora do jogo. Com os alemães avançando na busca pela bomba atômica, cabe a Einstein ajudar os americanos a serem mais rápidos. Sempre um pacifista, sua intervenção acontece coma  esperança de que a bomba nunca seja usada por lado nenhum.

Sua ajuda, em verdade, a causa da bomba americana vem apenas por sua amizade com o presidente Roosevelt, ele se mantém ao largo do desenvolvimento da bomba o quanto pode. Só que após a morte do presidente, ele não consegue chegar ao sucessor rápido o bastante para impedir o horror de Hiroshima.

O fato dos americanos terem chegado à bomba atômica antes dos alemães sempre me pareceu um golpe de sorte… Até aqui: não sei o quanto de verdade existe na revelação de que o responsável alemão pelo projeto da bomba teria falhado nos testes propositadamente (lerei mais a respeito, inclusive), mas se verdadeiro, este cientista merece mais louros do que os que chegaram da bomba do lado aliado.

Ainda que tenha tentado se manter ao largo, Einstein seria assombrado pelo fantasma de ter seu rosto associado a bomba. Não imagino pior coisa para alguém tão dedicado à causa da paz. Principalmente considerando que ele acreditava que seria por isso que seria lembrado eternamento.

Que bom que ele estava errado.

No campo pessoal a guerra ainda deixou outras marcas no físico: após a morte de Elsa, Einstein viveria com Margarita Konenkova, que depois é revelada como uma espiã russa colocada ao seu lado como uma missão – ainda que ela viesse a realmente se afeiçoar pelo judeu.

Os últimos dias de Einstein, então, ganham ares de recomeço quando a pequena Alice bate em sua porta vendendo biscoitos dos escoteiros. O físico enxerga nela o que ele um dia foi, a curiosidade e a inteligência, e encontra um tanto de conforto, tanto que retoma seu trabalho na faculdade e volta a discutir coisas como viagens no tempo.

No final de sua vida ele também consegue se reconciliar com o filho mais velho – e de novo a importância das mulheres na vida dele, já que foi Helen, que cuidava dele após a morte de Elza, quem faz com que ele procure o rapaz.

Einstein morre aos 76 anos de idade e a série sugere que o responsável pela autópsia do cientista queria estudar seu cérebro por segredos da genialidade… Eu não consigo imaginar nada mais absurdo que isso. Como Einstein mesmo garantiu a questão é perguntar e perguntar, qualquer um pode fazê-lo.

Sobre os escritos encontrados ao lado de sua cama no hospital por ocasião de sua morte, escreveria Walter Isaacson na biografia definitiva do gênio: “E a última coisa que ele escreveu, antes de dormir pela última vez, foi mais uma linha de símbolos e números que ele esperava levá-lo, e a todos nós, um passo mais perto da manifestação do espírito das leis do universo.”

P.S. Que trabalho magistral o da série! Retratou um gênio e um humano. Ao escolher nos mostrar o corpo de Einstein na mesa do patologista foi nos lembrar de sua humanidade e lembrar que sua mente/alma é o tornava quem ele realmente era.

P.S. do P.S. Em verdade são tantos os detalhes riquíssimos da série que seria impossível detalhar todos. Os diálogos inteligentes, a atuação dos dois atores escolhidos para o papel, a reconstituição de época, a tradução das teorias dele para a linguagem comum. Se dependesse de mim todos seriam obrigados a assistir.

P.S. do P.S. do P.S. A segunda temporada será dedicada a Picasso. Apesar de gostar do pintor, meu lado nerd adoraria ver outro cientista sendo retratados. E vocês?

 

 

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

1 comentário


  1. Excelente série! Esperava a semana inteira para poder assistir. Concordo com tudo que você falou Simone e se descobrir algo sobre o cientista alemão, por favor me avise.

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