Opinião: Bloodline

Poucos dias após a estreia da terceira temporada de House Of Cards o Netflix trouxe outra produção própria no gênero drama (e porque não dizer canalha, já que eles provam desenvolver personagens deste tipo com maestria): Bloodline.

Eu simplesmente devorei a série 3 dias e estou aqui roendo unhas a espera da próxima temporada. Demora? Heim? Quando?

Em respeito a quem não assistiu e quer saber mais, mas sem spoilers, a quem é curioso e a quem já encerrou a temporada toda, dividirei este texto em três partes, assim vocês podem escolher o que querem saber.

bloodline netflix

O que é a série (sem spoilers)?

“Nós não somos más pessoas, mas nós fizemos uma coisa ruim.”

A frase acima está presente no poster oficial de Bloodline e é repetida mais de uma vez ao longo da primeira temporada da série, sempre dita por John Rayburn (Kyle Chandler), o segundo filho do casal Robert e Sally Rayburn (Sam Shepard e Sissy Spacek), detetive da polícia local, casado, pai de família, homem correto e sensato.

Ele diz essa frase ao se referir à sua família como um todo ou ao falar de algum dos membros dela separadamente, sua irmã caçula Meg (Linda Cardellini), o terceiro irmão Kevin (Norbert Leo Butz) ou sua mãe.

Ele só não usa essa frase para se referir a Danny (Ben Medelsohn), o irmão mais velho.

O cenário é uma pousada paradisíaca no litoral da Flórida, motivo de vida e orgulho de Robert e Sally. E, é claro, a família é muito unida. As cores fortes, o sol brilhante, o céu azul, todo esse cenário transpira felicidade, até que Danny resolve voltar para casa para uma homenagem que seu pai vai receber.

E a parte inicial do primeiro episódio já mostra o quanto todos na família, com exceção de Sally, prefeririam que Danny não voltasse e que, com ele longe, eles pudessem fingir que não existem problemas, esquecer que uma quinta filha morreu em um acidente quando tinha 10 anos de idade e que isso fez com que a relação entre pais e filhos nunca mais fosse a mesma.

As difíceis relações (com spoilers leves)

Quando você vê a chegada de Danny você já sabe que não pode ser boa coisa. Eu olhava para tela e sabia. Eu terminei o primeiro episódio certa de que ele seria capaz de destruir tudo.

Até porque os produtores brincam com um recurso que eles já tinham usado em Damages: as idas e voltas temporais. Então, assim como vemos imagens do passado, de quando Sarah morreu, também vemos o efeito que a presença de Danny teve na vida de seus irmãos.

Não, ele não é o único problema, mas ele acaba por funcionar como um catalizador , a sua volta tudo se torna um problema. As pequenas mentiras bem intencionadas se tornam prisões e até mesmo quem é realmente bom, de verdade, acaba fazendo coisas ruins.

Com isso é fácil imaginar que uma investigação de John vai esbarrar no tráfico que seu irmão está ajudando, ou que seu irmão Kevin vai ter suas poucas esperanças de algo dar certo em sua vida serem destruídas ou que Meg será levada ao limite.

O problema mora nos segredos (com spoilers por todo lado)

Ao longo da série descobrimos que Danny estava com Sarah quando ela morreu. Sally tinha brigado com o marido e resolvido fugir de casa, pedindo ao mais velho que cuidasse da irmã. Danny a leva para um passeio de barco e a menina morre afogada.

O pai, em um acesso de fúria bate em Danny, que acaba muito ferido, o que gera uma investigação policial. Um a um dos irmãos mentem, dizendo que Danny foi atropelado, evitando que o pai seja processado.

É essa mentira, esse primeiro segredo, que é usada no roteiro como motivação para a vingança que Danny passa a executar em sua curta estadia em Islamorada.

Só que dizer que Danny só fez as escolhas que fez, cometeu os erros que cometeu porque seus irmãos disseram aquelas mentiras seria reduzir demais quem Danny.

Danny faz escolhas erradas, ainda que sua mãe e até mesmo seus irmãos estejam dispostos a lhe dar novas chances. Danny vai se envolver com as pessoas erradas, vai mentir, vai manipular, vai roubar.

E em nenhum momento ele tem qualquer problema com isso. Nem mesmo quando é descoberto.

Danny acredita que fala com Sarah, um indicativo de que ele é esquizofrênico, mas ele sabe o que é certo e errado e usa o que foi feito com ele, na verdade, como uma desculpa para poder fazer o que quiser da vida.

E ele faz e fica tão óbvio o quanto ele é ruim. Só que fica óbvio para eu e você, que o vemos mentindo para cada um dos irmãos, que o vemos manipular sua mãe. Só que, graças aos malditos segredos, nenhum membro da família fala com o outro sobre suas impressões, sobre o que ele disse e a situação vai sendo levada ao nível seguinte, até ficar fora de controle.

Bom, não ajuda o fato de Meg e Kevin serem dois perdidos – fiquei a segundos de escrever BURROS -, totalmente dependentes de John para resolver as coisas. E cada vez que resolvem fazer algo sozinho, claro que escolhem o pior caminho.

Pareço estar dando desculpas antecipadas para o John? Devo estar, porque ele é o único que eu realmente enxerguei como bom.

John foi o cara que tentou ajudar Danny pagando o curso de culinária, foi buscá-lo na rodoviária, vai mostrar as fotos das moças mortas achando que pode apelar ao coração de Danny, ele tenta de tudo. Até o momento em que Danny leva sua filha – e eu senti calafrios naquelas cenas do barco porque eu realmente achei que ele seria capaz de tudo – e então ele se quebra.

E Danny sabe que ele foi até o fundo e continua. John com certeza já carregava culpa pelo que aconteceu com a vida de Danny e agora carrega a maior culpa de todas.

Um amigo achou uma loucura os roteiristas terem matado o personagem ao final da primeira temporada, afinal tanto tempo e energia gastos com ele, mas a verdade é que não havia outra solução possível – até quando eles poderiam manter Danny manipulando e enganando todos eles?

Finalmente, mas com certeza não menos importante, Sally. É ela que move a família depois da partida de Robert e é ela que fará com que a segunda temporada exista. Eu fico aqui pensando que ela poderia ter dito a verdade para Danny, de que foi ela que pediu aos filhos que mentissem, e assim evitar a derrocada dos demais filhos.

Mas ela guardou seu segredo até o último episódio.

Eu não disse que o problema real mora nos segredos?

bloodline netflix john rayburn

No final das contas (apenas opinião, nenhum spoiler)

Bloodline compartilha uma característica principal com as séries produzidas pelo Netflix: foi feita para ser assistida em ritmo de temporada. Acaba parecendo mais uma minissérie do que uma série.

O problema disso é que alguém pode desistir da série antes dela “realmente embalar”. Os produtores e roteiristas sabem que tem determinado número de episódios para trabalhar uma história e a dividem, nem sempre sobrando ação e emoção a cada episódio.

Na verdade, em Bloodline muita coisa acontece nos seis episódios finais – MUITA. Então eu tenho uma crítica ao ritmo da série. Mas é minha única, e pequenina, crítica.

Como disse, encerrei o décimo terceiro episódio ávida por mais. Encerrei envolvida demais por aquele universo, tão conhecida daquelas pessoas. Curiosa pelo que virá a seguir – afinal nenhum deles é mais o mesmo.

P.S. Adolescentes são insuportáveis, mesmo em séries do Netflix.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

6 Comentários


  1. fiquei sem vontade de continuar assistindo, no 7o. episódio.

    daí, pra trabalhar algo em mim, sobre concluir coisas que começo, continuei assistindo.

    e foi então que vi tudo e estou querendo ver mais, com a morte de Danny (spoiler) não esperava que fosse existir um filho. brilhante. brilhante mais ainda, um adolescente com o exterior “agressivo” e destoante do paraíso na terra que é a pousada Rayburn.

    aliás, que paradoxo é o escolherem um cenário daqueles para mentes tão pertubadas habitarem.

    Ah, e os melhores adolescentes são de Homeland e GoT. amo/sou Dana. amo/sou Arya.

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    1. Olha, fui do amor ao ódio com a Dana, já GoT eu abandonei antes de Arya ser qualquer coisa, risos.

      Eu achei que o ritmo foi subindo bem lentamente, até mais lentamente que em HoC, mas eu gostei demais dos protagonistas e insisti. Ahhh, como valeu a pena!!

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  2. Bom dia..
    Muito legal o que vc escreveu sobre o seriado… Vi a uns meses atrás, mas essa semana recomendei o seriado para uma amiga (que tbm está curtindo). Resolvi pesquisar sobre o seriado e entrei aqui no seu. Saudades do John narrando a história. hehe…

    Vanessa

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    1. Oi Vanessa, obrigada!! O duro das séries do netflix é que a gente emenda um episódio no outro e, quando vai ver, tem que esperar um tempão até a próxima temporada 😛

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  3. Terminei de assistir a série ontem. Simplesmente adorei. Mescla de drama, medo, suspense, e pitadas de terror.

    Aguardando ansioso pela segunda temporada.

    Excelente sua analise Simone. Parabéns.

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