Homeland: The Clearing (2×07)

Vamos combinar: nem precisava ser adivinho pra saber que a trama da Dana seria um divisor de águas para Brody. Agora, se não foi surpresa que justamente isso acontecesse, de novo os roteiristas de Homeland capricharam na forma – e isso é o que realmente nos interessa.

Deixa eu contar uma coisa pra vocês: quando meu pai era jovem e ele e minha mãe se casaram, eles compraram uma casa financiada pela Caixa (forma que 9 entre cada 10 pessoas consegue sua casa) e iam pagar suaves prestações por um tanto de anos. Pois eu lembro de meu pai não dormir porque tinha uma dívida e que ele fez de um tudo para quitar a casa o mais rápido possível.

Pode até parecer bobeira, afinal todo mundo financia casa e as prestações eram pequenas e os juros idem, mas para ele era questão de honra.

Por que eu falei tudo isso? Porque isso me permite entender Dana, mesmo ela sendo imatura e chata. Não, contar tudo a esta altura do campeonato não vai ajudar ninguém e é muito provável que a família da vítima ganhe mais com o silêncio que com a verdade, mas eu entendo o que ela está sentindo.

Muitas vezes a noção de certo e errado que temos está entranhada demais em quem somos para que possamos ignorá-la. Acho que não somente Dana precisa fazer o certo como ela precisa ver que as pessoas a sua volta também fazem esta distinção entre certo e errado, daí sua explosão quando seu pai recua na delegacia: não é o fato dele ter mentido, mas o fato dele aceitar disfarçar o errado para que pareça certo.

Quem sabe, simplesmente, eu a entenda porque sou parecida demais com ela nesse ponto, o que torna conviver comigo, que só atravessa na faixa de pedestre, mesmo ela estando longe demais, ou ficar de pé no metrô, mesmo que um acento preferencial esteja vago, meio chato de vez em quando. Isso não nos torna melhores que ninguém, por favor, apenas nos torna o que somos.

E acho que Brody também sente isso. Se teve algo que eu sempre defendi, mesmo quando ele era um terrorista, é que Brody fazia o que ele achava certo. Temos milhares e milhares de argumentos para achar loucura ele sequer pensar em detonar aquela bomba e matar aqueles políticos, mas, naquele momento, ele acreditava fielmente que era o certo a fazer porque considerava aquelas pessoas assassinos.

É importante lembrar que tudo é relativo em função de nossas experiências, de nosso ponto de vista.

Neste momento Brody não somente está sob grande pressão – aquela que falamos que ele não resiste a – como é confrontado com a ideia de que nada do que ele acreditava é realmente certo, nem quando era soldado, nem quando era terrorista. Seu desconforto quando o dono da casa lhe considera um exemplo é evidente. Ele não sabe mais no que acredita, quanto mais quer servir de exemplo. Ele sabe que fez algo muito errado (quando ele fala que Tom se perdeu para Jess na verdade ele fala dele mesmo), mas ainda não achou o certo.

É como se o personagem estivesse sendo desconstruído peça por peça. Jess lhe pergunta sobre o assassinato de Tom e ele conta porque a verdade é importante, em seguida ele aceita não ficar ao lado de sua filha porque nem toda verdade pode ser revelada.

Para piorar a presença de Carrie surge por todo lado: agora Mike e Dana sabem do retorno da agente, duvido que Jess fique sem saber por muito tempo ainda.

Falando da agente: que cena foi aquela entre os dois, minha gente? A química dos atores é de fazer ferver a telinha. Eu confesso que fiquei extremamente mexida com toda aquela tensão, depois refletida no comentário de Brody: “dois minutos com você e eu me sinto bem, como você faz isso?

Em mesma medida, mas na direção contrária, tivemos Saul e Aillen: mesma intensidade de emoções, uma tristeza imensa por tudo que aconteceu. Tristeza por Saul ter acreditado – e ter sido tolo, porque, né, uma garrafa de vidro… -, tristeza por ela ter enxergado este como seu único caminho.

Homeland de novo entregando uma ótima história e nos dando a nítida impressão de que qualquer coisa pode acontecer e é importante prestar atenção a tudo.

P.S. Participação especial de John Finn é puro amor pra mim. Adoro!

P.S. do P.S. Quinn está vivo e ainda mostrou o corpão pra gente. Momento descontração no meio de tanta coisa, não foi?

P.S. do P.S. do P.S. Que foi aquela mulher fazendo aquelas perguntas pro Brody e depois encarando as cicatrizes, noção passou longe.

P.S. do P.S. do P.S. do P.S. Falando em tudo pode acontecer: Damian Lewis na Ellen DeGeneres na semana passada.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

12 Comentários


  1. Perfeito, Simone. Também entendo a Dana completamente: ela precisa saber que a família dela não é como a do Finn, que a família dela coloca os valores acima de tudo.
    Agora, sobre o Saul e Aillen: acho que ele levou a garrafa. Ela se cortou com os óculos dele… Muito triste aquele momento. E acho que o Mandy Patinkin está fazendo um trabalho de uma sutileza e sensibilidade incríveis!

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  2. Simone, sua review, como sempre, perfeita. Também penso da mesma forma: ao acreditarmos naquilo que é certo, nos tornamos quem somos. Damian e Clare estão maravilhosos e Mandy, sem palavras para descrever o quanto é ótimo.
    Flávia, na hora que o Saul saia da sala, o guarda recolhe os copos e o resto, acho que deixou os óculos porque seria de uso pessoal do agente da CIA.

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    1. Ahhhh, eu vi o cara recolhendo as coisas mesmo, devia ter me tocado.

      Eu amo Mandy Patinkin!! Ele é tão meticuloso, tão cuidadoso. Ele nunca extravasa, então cada detalhe da atuação ganha nova importância.

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  3. Simone, um adendo: só hoje vi que já está passando a 4ª temporada de Drop Dead Diva. Mas é matinê!

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    1. Então moça, a Sony entrou na moda da Warner e Fox e enfiou as séries de comédia as cinco da tarde. Bando de louco, só pode ser!

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  4. Ok, podemos entender Dana, mas o personagem precisa ser tão insuportavelmente chato?
    Vejo John Finn e sempre vou lembrar de “Cold Case”, uma série que era muito bacana e se tornou chata.
    Não me sinto triste em relação à Aillen, ela escolheu o caminho mais fácil, mas ao mesmo tempo é preciso ter coragem para acabar com a própria vida, mas, como sentir pena de uma pessoa que está disposta a matar dezenas, centenas, milhares, para defender algo que acredita? Pode ser um pensamento duro ou pragmático, mas é o que acho. (Ela se matou com os óculos, acho que com o vidro das lentes).
    Se vc achou aquela cena quente, espere que vem muito mais…

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    1. Risos, eu fico pensando se os roteiristas exageram na chatice por alguma razão que ainda não sabemos ou porque eles acham que todos adolescente é assim. Segredo de Tostines.

      Obrigada pela observação do óculos, eu realmente tinha ficado na dúvida.

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  5. Simone a filha do Brody é chata!
    Agora no próximo episódio o bicho vai pegar!
    Quem assistir ao 2x e o 2×9 vai achar os episódios anteriores abaixo porque o nível aumenta!

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  6. Como sempre chegando tarde aqui!Tudo q eu queria dizer já foi dito.Eu só não tenho a menor noção de como essa temporada vai acabar.

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    1. Gabriela: eu não tenho a miníma noção do que será o próximo episódio, quanto mais o fim da temporada. Como Damian falou na entrevista: o povo do roteiro é capaz de qualquer coisa.

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  7. Homeland é a minha menina dos olhos! Tantas séries ótimas por aí mas nenhuma me faz sentir assim. Realmente os dois protagonistas tem uma sintonia que extrapola a tela. No meio de toda a estória os dois estão sendo sinceros um com o outro, apesar de tudo e por causa de tudo, eles são a única verdade em tudo isso.
    É bom demais de ver!

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