Studio 60: What Kind Os Day Has It Been? (01×22)

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Sentimento nunca é igual, para ninguém, mesmo que duas pessoas gostem da mesma exata coisa. A maneira como uma mãe ama seu filho é diferente de todas as outras mães amam seus filhos, é diferente, até, da maneira como o pai amará aquele mesmo filho.

Quando eu vi o primeiro episódio de Studio 60 ele já havia sido cancelado nos Estados Unidos, eu já havia lido muita gente falando mal, e olha que eu fujo de spoilers o máximo que posso. Quando eu vi o primeiro episódio de Studio 60 eu havia me preparado para não gostar tanto assim do que veria.

Quando eu vi o primeiro episódio de Studio 60 eu ainda não chamava Aaron Sorkin de gênio e ainda não havia me apaixonado por Bradley Whitford… Eu ainda achava que Matthew Perry ia só fazer uma nova versão de Chandler Bing, e não poderia estar mais enganada.

Quando eu vi o primeiro episódio de Studio 60 eu me apaixonei. De maneira parecida com que me apaixonei por outros seriados dos quais fui fã, mas de maneira totalmente diferente.

E quando eu terminei de ver What Kind of Day Has It Been eu chorei, chorei pelo que esse seriado poderia ter sido e pela falta que sentirei dessas pessoas em minha vida daqui em diante, mesmo a chata da Harriet, mesmo eles não sendo de verdade.

What Kind Of Day Has It Been é o nome do último episódio de Studio 60, da finale da primeira temporada de Sports Night e da finale da primeira temporada de The West Wing, quando o personagem de Bradley Whitford sofre sérios ferimentos.

Sei que zilhões de pessoas acharam o episódio pedante, forçado, melancólico, melado ou sei lá mais o quê. Foi sim, tudo isso, mas eu também achei que conseguiram fechar o seriado de maneira feliz.

É claro que Studio 60 não deve ter alcançado o potencial dele, os tropeços foram muitos. O seriado já não foi bem recebido, teve uma audiência pífia, ameaçado de cancelamento já nos primeiros episódios. Sofreu uma pausa de meses e, quando voltou, todos já tinham certeza de que ele não iria mais muito longe.

O arco final, iniciado com K&R Part I e que terminou com o último episódio, foi, sim, dramático ao extremo. Teve todo tipo de desgraça possível: irmão de Tom preso por terroristas, Jordan indo parar no hospital com a gravidez e a própria vida em risco, Matt viciado em drogas (ou, como o próprio Danny disse, em qualquer coisa que aparecesse).

Com tanta desgraça só restava ao episódio final meio que parecer com final de novela e todos ficarem felizes. Vamos olhar da seguinte maneira: já bastava a tristeza do cancelamento, não precisavamos ver ninguém morrendo ou se acabando.

No final de K&R Part II vimos o desabafo/ descontrole de Simon em função da palhaçada da mídia transformar a desgraça alheia em notícia de primeira página. Nos dois últimos episódios Jack e Simon conversam em uma sala reservada, o primeiro pedindo ao segundo que se desculpe, já que todos estão achando que ele é um terrorista.

A história continua servindo de paralelo para a demissão de Matt e Danny anos antes por causa de um quadro considerado anti-patriótico. Após a pressão de Jack para que os dois peçam desculpas não funcionar, Wes é quem resolve fazer a declaração pública, o que incomoda Matt mais do que todo o resto e é o que faz com que ele resolva se demitir.

Pelo que entendi da conversa de Jack e Simon, se dependesse unicamente de Jack os dois não teriam deixado o programa. E o discurso de Danny para Matt falando que eles estavam perto de assumir de vez o programa enquanto Wes se aposentava na sala de redator chefe também indica que o antigo produtor poderia estar com ciúmes do sucesso de Matt.

Jack, para mim, foi uma grata surpresa. Ele está longe de ser perfeito e, por isso mesmo, é de longe o mais humano. Ali, na sala com Simon, enchendo a cara de whisky, ele pode não ter falado muito, mas falou bem. Quando, então, ele fala que Simon não precisa mais pedir desculpes, e Simon resolve que vai, e os dois começam a mais absurda discussão de corredor, eu me deliciei.

Para Danny continuam cabendo os melhores diálogos, os melhores momentos. Não só suas atitudes quando segue o amigo que pediu demissão, mas, também, sua conversa com Harriet na capela do hospital, quando fala que o conquistou foi lutado e nada ele ganhou de presente, sua cena final com Jordan e a pequena Rebecca nos braços e quando ele conversa sinceramente com Harriet sobre o fato dela se culpar por algo que Matt nunca cobrou de ninguém (ela também não ter se demitido naquela noite).

Esse seriado não foi, em realidade, sobre a produção de um programa de humor na televisão. Esse seriado foi sobre uma amizade verdadeira, onde um pode apoiar o outro, mesmo quando ele tem dúvida sobre a força das próprias pernas.

É claro que Matt e Harriet ficam juntos. É claro que Jordan sobrevive. É claro que o irmão de Tom sobrevive.

Tudo isso era previsível, tudo isso era óbvio, mas eu fiquei feliz com tudo isso. Simplesmente pois não tem nada de errado se ficar feliz por algo previsível acontecer. A vida nem sempre é surpreendente.

Na cena que poderia ser a final, Danny apaga a “ghost light”. Por tradição, essa luz fica sempre acesa no teatro, mesmo quando nenhuma peça está sendo encenada, mantendo o teatro seguro contra várias superstições. A única ocasião em que ela é apagada é quando o teatro será fechado em definitivo. Uma maneira de Sorkin fazer sua despedida.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

7 Comentários


  1. É, acabou…
    Eu já sabia que Aaron Sorkin era phoda (com ph, mesmo) antes de assistir Studio 60, fui convertido por West WIng, apesar de já adorar Sports Night sem mesmo saber quem escrevia / produzia.
    Definitivamente os episodios finais (K&R I, II e III e WKDHIB), já com a série cancelada, foram um legítimo chute no balde: tudo que ficou engasgado em anos de The West Wing e que não podia ser dito -sobre a indústria do entretenimento, no caso, mas principalmente sobre o status quo americano veio a tona, até um mea culpa quando Harriet questiona Matt se sob uma administração democrata a reação dele ao “pedido” do governo por “filmes mais patrióticos” seria aquela e ele assume que não.
    Foi um final piegas, a la fim de novela? Foi. Mas foi também um final digno, colocando pontos finais numa história que eles já sabiam que não teria retorno. Um final digno como foi Tomorrow.
    É, acabou… E eu gostei muito.

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  2. Seu último parágrafo, sobre a “ghost light” mexeu comigo. Aí fiquei emocionada. Um lindo final para o seu texto assim como muitos finais de Studio 60 souberam ser lindos.

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  3. Eu acho que as coisas ficaram meio “apressadas” por conta do fim prematuro da série. Com certeza muitas histórias seriam melhor desenvolvidas se houvesse uma continuação, possivelmente, no original, a temporada terminasse mais tensa do que “novelesca”, embora, eu tenha gostado assim, pq não deixou muitas lacunas abertas, de outra forma iria nos deixar ainda mais atormentados com esse ingrato cancelamento.
    No fim das contas, foi a melhor surpresa desse ano, digo mais, a melhor série dos últimos anos…. Agora fica só as saudades de Matt, Danny e cia.

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  4. Ah, Si. Vamos ter que discordar quanto a Harriet. Eu amei ela apesar de seus defeitos. Tudo bem que ela começou perfeita, e depois daquela entrevista com a Martha O’Dell subiu mil por cento no meu conceito, mas depois ficou um pouco chata por causa da repetição no relacionamento dela com o Matt, mas acho que ela era adorável apesar de tudo.
    Falando em O’Dell, seria maravilhoso se ela voltasse. Se aquele artigo da Vanity Fair saisse, ou se pelo menos ela aparecesse, porque ela seria sensacional mesmo se não tivesse nada pra fazer.
    E o que aconteceu com a tal da Mary Tate, hein?

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  5. A sua descrição da cena do “ghost Light”foi poética à altura do belo (e prematuro) final da série; uma série que criticou o “sistema’ e mostrou relações leais. E, como já li em vários blogs, “Eu queria viver em um mundo escrito por Aaron Sorkin…”

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